domingo, 25 de outubro de 2009

A criança e o Tempo







Talvez eu esteja envelhecendo. Talvez não, certamente eu estou. Mas não consigo admitir. Não a passagem do tempo, pois esta fez-me muito bem, obrigada.

Apenas não admito que com a passagem do tempo alguns valores tenham envelhecidos. Pior, estejam definhando, agonizando, morrendo à míngua. Será que estou eu ficando obsoleta? Será que estou apegada ao passado e minha terapeuta ainda não deu-se conta? Duvido.

Me nego a aceitar como evolução meninos e meninas de oito, nove anos buscando como único divertimento possível jogos em que eles escolhem se vão atacar o inimigo com uma arma nove milímetros ou uma metralhadora. E acabam escolhendo a que faz maior estrago, o que confesso, sem vergonha nenhuma, não saber qual é, embora eles já tenham me explicado que armamento bom é aquele que aparece só um furinho onde a bala entra e na verdade deixa um rombo onde ela sai.

Não estou falando de crianças aliciadas pelas guerrilhas ou pelas milícias. São crianças que poderiam ser meus filhos. E que tratam os pais com desrespeito, os professores um pouco pior e os colegas aos chutes e pontapés. Que assistem filmes e os classificam de sem graça se não morre ninguém. Que acham que o caçador da Branca de Neve foi fraco, porque foi incapaz de matar a mosca morta da princesa. Que quando perguntamos o que querem ser quando crescer respondem sem titubear: “chefe do tráfico da Rocinha”, mesmo morando no Sul e não tendo a mínima idéia de pra que lado fica o Rio de Janeiro.

São essas crianças que depois serão os adolescentes que dão trotes universitários violentos, que espancam mulheres, que saem no tapa no trânsito, que sacam uma arma, que fazem de refém as meninas que ousam negar-lhe a satisfação dos desejos.

Fiquei pensando hoje enquanto olhava o bando de crianças saindo da escola. O tempo passa, mas há coisas que deveriam ser perenes. Coisinhas pequenas, como o respeito, a consideração, a noção de limite, e especialmente a preservação da vida.

Deu saudades… saudosismo bobo, do tempo em que se brincava de polícia e ladrão, e todo mundo queria ser a polícia.
CRIADO POR TAIANE ROSSI

Um comentário:

  1. É interessante, minha amiga, também penso sobre essas coisas de vez em quando, é triste mas em pouco mais de 20 anos a nossa sociedade mudou muito e infelizmente para pior, salvo algumas coisas como a tecnologia que é considerada A Revolução da Informação. Bem voltando ao assunto quero aqui dar o meu pitaco : Penso que os pais de hoje que na sua maioria eram jovens nos anos 80 tem grande parcela de responsabilidade por isso, e a outra parte vai para a midia e o governo que sucateou os sistemas educacional e de saúde e segurança pública. Saímos de uma geração de crianças que eram criadas com autoritarismo, com uma rigidez exagerada e hoje temos pais que não abrem mão de nada para educar seus filhos, então terceirizam os seu deveres, delegam a outros, aqueles que tem algum dinheiro colocam seus filhos nas creches, nas escolas de período integral e no pouco tempo que deveriam ter contato com os seus filhos para transmitir os valores básicos para uma convivência cidadã, preferem entregar estes a TV sem nenhum tipo de censura, ao computador ( hoje a maioria das crianças tem celular, msn, orkut, muitas se trancam nos quartos e os pais não fazem ou não querem ter a mínima idéia do que fazem, pois esta é a sociedade que criamos, será isso liberdade ? onde erramos ?, eu concordo com o apóstolo Paulo neste ponto, quando somos crianças devemos agir como crianças para quando nos tornarmos adultos deixarmos as coisas de crianças para sermos homens e mulheres com capacidade de criar e transformar o meio em que vivem.

    Mas o que temos hoje são adolescentes de 30 anos ainda totalmente dependentes dos pais, Meninas de 15 anos sendo mães em plena era da informação onde a camisinha é algo tão comum como a COCA-COLA, o número de divórcios é altíssimo e por aí vai.

    Para encerrar quero transmitir uma cena que vejo com frequência aqui na minha cidade, uma jovem oriunda da periferia de pele negra com um filho no colo com o nariz escorrendo, outro filho segurando a sua mão, o terceiro andando a sua frente e o quarto a caminho na sua barriga, eu me pergunto o que serão deles, de todos eles, provavelmente marginais, pois ninguém lhes estende a mão e não podemos cobrar muito da mãe, como ela pode dar aquilo que ela não teve, que não conhece, AMOR, RESPEITO, CARINHO ………………..

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